Originária do movimento de educadores do final da década de 1970, a ANFOPE celebrou 38 anos de luta em defesa de políticas de formação e valorização profissional da educação que assegurem o reconhecimento social do magistério, seu profissionalismo e profissionalização.
A Anfope tem como marco de sua origem a 1ª Conferência Brasileira de Educação (CBE/PUC/SP), com a criação, em 2/4/1980, do Comitê Nacional Pró-Formação do Educador, posteriormente configurado como Comissão Nacional de Reformulação dos Cursos de Formação do Educador (CONARCFE, Belo Horizonte, 25/11/1983). Em 26/7/1990, durante o 5º Encontro Nacional (Belo Horizonte/MG), foi convocada a Assembleia Extraordinária, com o objetivo de “examinar a possibilidade de transformar a CONARCFE em uma ASSOCIAÇÃO NACIONAL” (ANFOPE, 1990, p. 5). Tal ideia materializou-se em 1992, com a fundação da Anfope, que tem como primeiro presidente Prof. Dr. Luiz Carlos de Freitas.
A Anfope surge em um momento histórico de profícuos avanços na retomada da democratização no país e, por conseguinte, de conquistas no campo da educação brasileira. Constitui-se a partir de princípios defendidos pelo movimento de educadores, como a construção da Base Comum Nacional, que desde o início do movimento definia a identidade do profissional da educação tendo a docência como base da identidade profissional de todo educador.
Ao longo dos anos 1990, a Associação teve forte engajamento na proposição de um projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, construído coletivamente nos debates empreendidos nos Congressos Nacionais de Educação (CONED) e pelo conjunto de entidades que compunham o Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública (FNDEP). A Lei n. 9.394/1996 não contemplou os anseios das entidades do campo educacional e de grande parte de educadores brasileiros do campo progressista, o que fez com que a luta se intensificasse para coibir os ataques à formação de professores, ameaçada pela descaracterização e aligeiramento. A Anfope se engajou na discussão e na elaboração do Plano Nacional de Educação da Sociedade Brasileira, mas a Lei n.10.172/2001 (PNE 2001-2010), não contemplou as proposições do III CONED ficando aquém do esperado. Nos anos seguintes, a Associação participou de forma ativa e propositiva da discussão nacional sobre as Diretrizes Curriculares para o Curso de Pedagogia, elaboradas pela Comissão de Especialistas de Pedagogia e, ainda, no GT Tarefa, indicado pela Secretaria de Ensino Superior (SESu/MEC) para elaborar as diretrizes para as licenciaturas. Essa atuação trouxe contribuições muito significativas para o processo de discussão e de elaboração das diretrizes curriculares, em um movimento de enfrentamento ao estabelecido pelo MEC. A temática das Diretrizes Curriculares para os cursos de formação de professores passou a orientar as ações da Anfope em nível nacional, articulada com entidades do campo educacional e com as instituições de ensino superior. Ao longo da década 2000, a Anfope levou a efeito uma série de ações conjuntas com vários segmentos sociais e entidades, em um amplo movimento, a fim de construir coletivamente um projeto de formação dos profissionais de educação e intervir de forma consequente nas políticas educacionais.
Com as mudanças ocorridas no país, no MEC, a partir de 2003, com a posse do Presidente Lula, pôde-se estabelecer um diálogo antes inexistente. Esse fato, porém, não diminuiu o ímpeto militante da entidade, em defesa dos princípios e da formação de professores, e a Anfope engajou-se de forma combativa na resistência dos educadores que obstruiu o processo de Certificação Profissional do Magistério, desencadeado em 2003. As Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de Pedagogia, aprovadas apenas em 2006, após um período de sete anos de enfrentamento com o Ministério da Educação (MEC) e com o Conselho Nacional da Educação (CNE), incorporaram muitos dos princípios e concepções defendidas pela Anfope, reafirmando sua importância propositiva.
A ANFOPE não se furtou a criticar de forma propositiva a ausência de um projeto educacional articulado a um projeto de sociedade, que apenas ensejado não chegou a ser construído nos Governos Lula e Dilma, e manifestava sua preocupação com a retomada das questões sobre a avaliação docente, posicionando-se em defesa de uma educação de qualidade em confronto com as exigências dos organismos financiadores da educação que propugnavam eficiência, produtividade e melhores índices educacionais como parâmetros de avaliação do professor, visando ao estabelecimento de rankings, indicando que apesar do evidentes avanços na política educacional, não houve uma ruptura com algumas concepções até então vigentes no MEC.
A Anfope, em conjunto com as entidades nacionais do campo educacional, buscou, ao longo da segunda metade da década de 2000, aprofundar o estudo e a discussão sobre a temática da formação e da profissionalização do magistério, articulando-se às lutas mais gerais dos educadores brasileiros, em grandes eventos como a CONEB (2008), a I Conferência Nacional de Educação (CONAE/2010) e a II CONAE (2014).
Dando continuidade ao seu percurso de lutas e enfrentamento de desafios, a Anfope participou, de forma propositiva, no processo de discussão, elaboração do Plano Nacional de Educação (2014-2024), objetivando, dentre outras políticas educacionais, a criação de um Subsistema Nacional de Formação e de Valorização dos Profissionais do Magistério, articulado ao Sistema Nacional de Educação. O Subsistema citado deveria compor um agrupamento de subsistemas articulados com o Sistema Nacional de Educação. São eles: Subsistema de Avaliação Educacional, Subsistema de Financiamento da Educação e Subsistema de Gestão Democrática.
Anfope integrou, desde 2010, o Fórum Nacional de Educação (FNE), entretanto com a sua descaracterização, junto com outras entidades ajudou a fundar o Fórum Nacional Popular de Educação (FNPE) e a organizar a CONAPE – Conferência Nacional Popular de Educação, realizada em maio de 2018.
Assim, desde a sua fundação, a Anfope posiciona-se com as demais entidades científicas do campo educacional, com os movimentos sociais organizados, com os trabalhadores e estudantes e com os setores progressistas da população, em defesa da democracia, hoje ameaçada pela judicialização da política e pela politização do judiciário, em nome de um parcial combate à corrupção e da alegada necessidade de ajustes fiscais e cortes de gastos, que comprometem os direitos e princípios constitucionais e o atingimento das Metas e estratégias do Plano Nacional de Educação.
Este breve histórico, demonstra que a Anfope, seguindo uma trajetória de fortalecimento, vem representando, nas últimas quatro décadas, um pensamento educacional brasileiro que mantêm compromissos historicamente assumidos com a escola pública, laica, gratuita e inclusiva em todos os níveis e modalidades para todos os cidadãos brasileiros e de qualidade referenciada no social. Os diferentes documentos produzidos pela Anfope, sistematicamente, apontam esses princípios, em especial, nos Documentos Finais referentes a cada um dos Encontros Nacionais.
(texto adaptado do Documento Final do XVIII ENANFOPE – 2016)